DO TEU OLHAR ATÉ AOS MEUS OLHOS

Pára, não deixes

que mais nada vacile

pelos trilhos do teu olhar até aos meus olhos.

Usa o meu olhar

como se fosse uma corda

de certezas entrelaçadas de vida.

Agarra o meu olhar

com o olhar dos teus olhos,

deixa que ele te resgate do amanhecer

ilustrado em sombra no teu lençol de solidão.

Usa os meus olhos

como se fossem lanternas,

segue a luz que eles te escrevem na alma.

Anda, caminha serena

sobre essas palavras que lês no meu olhar.

Usa os meus olhos

como um lenço para te secar as lágrimas.

Ouve os meus olhos no teu pensamento,

escuta o meu pensamento.

Olha-me com gritos de basta,

atira os teus olhos a esta fogueira de estaca zero.

Vem, vamos recomeçar o horizonte,

respirar os montes e partilhar entre nós o mar.

Esquece a lógica de amar,

lembra-te que o amor é apenas um momento.

Esse momento de amor é meramente eterno,

é um caminho de ir longe sem volta,

é um infinito à solta que nos une.

Vamo-nos amar

enquanto essa eternidade se estende em nós.

Perceber porque amamos é um buraco fundo.

Tão profundo

que de repente as razões vão ao passado

remexer medos que nos vendam os olhos.

Não quero cegar de claustrofobias,

quero ver-te em utopias no brilho do teu olhar.

Vê em mim

o sol no teu acordar,

as flores no teu respirar

e os luares mais intensos nos teus sonhos.

Sem amor, falta-nos tudo.

A boca seria calada

por fados desgraçados e a poesia morria.

Os lábios secariam

em choros e o frio seria a nossa cor.

As mãos congelariam

em destino triste e tudo quanto existe

seria um cacto no deserto do tempo.

A voz seria um carrossel de silêncio

e as canções seriam pó.

E os olhos,

os olhos seriam um fosso de distâncias

e o olhar a última vez da vida.

Pára, não deixes

que mais nada vacile

pelos trilhos do teu olhar até aos meus olhos.