Encorajo o olhar
sobre a fome oculta
num infanticídio de bocas esquecidas.
Bocas a quem
o destino roubou a inocência
num tempo servido numa mesa vazia.
Junto dor à alma
com violência o sofrer de quem nada tem
no ópio do seu berço nem mesmo é lembrado
como alguém.
Pairo o pensamento
apunhalado por semblantes
de crianças escravas de um qualquer vício.
Crianças que não passam de ar frio,
que não passam de um sol que sobra
atrás das costas ignorantes.
Sinto esta vaga de gentes sós,
gentes que apenas choram ecos de maus-tratos.
Choros abstractos
apelando ao silêncio do seu estômago
tão oco quanto os sentimentos
de quem não os vê nem sente gente.