
Calem-se as vozes
que do vento me esbofeteiam o rosto
com o murmúrio das montanhas nos meus olhos.
Já nada vejo sem meus olhos te verem
por entre as névoas cinzentas
dos meus dias suspensos à espera de ti.
Calem-se as vozes
que do mar me amordaçam a boca
com a vastidão do silêncio nos meus lábios.
Sem te beijar sou mártir
qual onda rebente sem abrigo
nos momentos mais crespos da vida.
Calem-se as vozes
que da noite me assombram as mãos
com luares frios nos meus braços.
Sem te abraçar sou eclipse
qual menino perdido por entre o choro das estrelas
que me entristece a madrugada de cama vazia.
Calem-se as vozes
que da alma me alagam em lágrimas
com saudade a minha voz.
Quando não estás no nosso leito de amor
tudo é silêncio que dói.
Calem-se as vozes
que da multidão me apagam o sol
com olhares soslaios à minha solidão.
Sem ti sinto-me uma ilha
onde o pensamento é uma flor
onde vejo o teu rosto.
Calem-se as vozes
que do caminho me atam o corpo
às distâncias que nos desencontram.
Sem o teu corpo
os meus poemas são gritos
que não vão além da garganta
em eco de nada.
Calem-se as vozes
que do amor me empurram
para o inferno da tua ausência em mim.
O Eu é um inverno
que de mim se apodera sem o teu beijo.
Calem-se as vozes
que do teatro da vida
me encenam venenos de esperança.
Procuro-te na minha própria tempestade,
remexo todas as bonanças
que me fizeste sonhar ter-te.
Calem-se as vozes
que de mim gritam as areias
que te escondem no deserto das minhas palavras.
Sou um ser mudo se não me ouvires
encostada ao meu ombro.