Quem não se inventa não existe.

AMAR É A MINHA MORGUE

Lodaçal de olhos lodo,
esventro o sol com palavras por dizer.

Palavras sal de fornalhas não lidas.

Estrídulas lágrimas.

Lamaçal.

Penso lama vil sobre rocha fria,
mármores choradas onde jaz a esperança.

Festança ridícula,
esdrúxula matança,
escorrego ouvir ais desafinados.

Queixumes metidos,
mentidos na mente à dor
que me presta às aresta de amor
em cegas silhuetas que se amontoam ocas.

Cinzento me levo em poesia morto,
lavo-me com cortinas de unhas gastas.

Interpreto o tempo
em quilómetros encalhados
num grão de areia suja por suores ansiosos.

Escrevo a vento desabafos de vidro frágil.

Amputo a voz
ao relógio seco das minhas veias,
candeias de desejo ardem mofo mutilado.

Saracoteio
de mácula em mácula
erguendo-me estátua de escuro.

Pantanal de beijo pântano,
vou azo firme em chão móvel,
contorno-me imóvel incontrolável.

Derroto perdas,
derrocadas pedras me encontro
em tanques de monstros emergentes
no meu estendal de ilusões desocupadas.

Obrigo-me
a favor de mim cacto,
desato a cor do fato de flores velhas
no novo eu florido num espelho de água.

Insípido me devolvo
partido por inteiro a meio
do fim começo no meu plural só.

Amar é a minha morgue.

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