CAIS DA ALMA

A poesia é uma mão

que pousa no meu ombro e me acalma.

É o cais da alma

quando o mar da vida está revolto.

É um corrimão

onde me seguro quando a tempestade

tenta me arrastar contra as rochas.

É uma corda

quando a saudade

é um poço por onde me cai o rosto.

É uma ponte

quando a tristeza me faz perder de mim.

A poesia

é a extensão da minha voz

quando o silêncio é o meu cárcere.

É uma esplanada

que me devolve o fôlego às costas

quando a dor pesa com luares de chumbo.

É um espelho

onde me vejo quando a escuridão

é o momento dos meus olhos.

É um abrigo

quando as lágrimas

me afogam a boca com grito.

A poesia

é um oásis quando o amor

se transforma num deserto.

É um uivo

de socorro quando a solidão

é uma fábrica de ocos pelo caminho.

É uma altura

encimada de sol

quando os meus lábios são inverno.

É um sino

que me acorda quando o sono escassa

e a insónia me atormenta com pesadelo.

A poesia

é uma mulher bonita

que invento para construir asas

e voar até que encontre as pontas do vento.

A poesia

é um imenso escrito,

um infinito no pensamento,

uma eternidade para quem ama.

A poesia é o fim do poeta.