Quem não se inventa não existe.

CHAMPANHE AMARGO

Saudade
é uma esperança
encalhada no sono das correntes
que desencontram os portos dos olhos.

É a bússola do poeta no deserto do amor.

É cor penosa
que em nós se arrasta
pincelada a choro numa tela
de recordações em champanhe amargo.

É poema
escrito em praias pálidas
de onde avistamos o mar salgadamente
rasgado pelas vozes do vento a ecoar lamento.

É grito das ondas
que em nós vociferam esperas de mel
que nos trespassam a fala com música grotesca.

É um sul
por onde pomos as mãos
em palavras insensíveis de onde nasce a tristeza.

São palavras frias
num nevoeiro que degola o farol da vida.

É um norte
de solidão que por nós desce
de pedra em pedra cinzelada no rosto
entre estrofes desabafadas por ausência.

Sentir saudade
é um naufrágio de veleiros épicos à deriva.

Faz-nos sentir
sermos ilhas esquecidas,
de onde nos espreitamos réstia de gente
que somente sente o aborto do nada ao peito.

Os dias
raiam-se esfomeados de carinho
desenhado a bordo de naus deprimentes.

É um túnel
por onde nos guiamos com piras apagadas.

As horas
batem desorientadas
na face de uma colina onde as lágrimas
escavam caminhos de rumos desapontados.

Saudade é um lugar de nenhures.

É um trapo roto,
onde bordamos com agulhas surdas
o sorriso que nos engana a melancolia do tempo.

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