Quem não se inventa não existe.

CROCHÉ DE BRUXAS

Um croché de bruxas

veste a noite em tons mais negros

que o escuro de uma noite eclipsada

por unhas envernizadas de aspirina.

 

Grandiloquentes

gargalhadas coscuvilhadas

em línguas tombadas à porta de feitiços

à espreita de uma janela à hora da telenovela.

 

Batons de cor menstruada

abalroam a lua ressacada à pedrada com xanax.

 

Vozes entoadas de cotão

ouvem-se ácaros ciosos montados

em vassouras de pau torto em testas ornamentadas.

 

Feiticeiras

de cuecas sujas

por almas depenadas,

varrem as esquinas do ar como enxadas

encabadas ao frio escavam sepulturas na terra.

 

Narizes pontiagudos

atalham ruas fungosas

por debaixo de capas assoadas

por retinas pretas.

 

Receitas lagarto sapato

maquilham bocas malvadas com hálito

a meias rotas e perfumadas de caminho.

 

Chapéus de bico alto

ensombram minissaias de salto alto

com calcanhares em grito feito de agulhas

que descosem maças envenenadas.

 

Xailes de cruzes canhoto

ensacam medos adultos qual criança

fosse levada pelo homem do saco

que nos ronca aos pés da cama.

 

Entre raios e coriscos

vassouras vão-se piaçás trôpegos sanita abaixo.

 

Mudam-se os tempos,

mudam-se as vassouras e as bruxas

vão agora de aspirador mais silencioso

que as barbas rijas da vassoura.

 

Outrora entravam

pelo buraco da fechadura sem vaselina,

agora entram pela net desvirginadas de vergonha.

 

E no céu sobram dias de vinte e cinco horas.

 

E o dia é das bruxas ou as bruxas são do dia?

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