Arrecado meus olhos
numa sepultura de cebolas
e nem assim choro.
Amo para chorar.
Esventro meu corpo
com um tornado de lâminas
e nem assim sangro.
Apaixono-me para sangrar.
Mato-me
com prosas de morte
e nem assim morro.
Vivo para morrer.
Mergulho
em poços de merda
e nem assim cheiro mal.
Perfumo-me
de ansiedade para cheirar mal.
Sinto-me podre.
Deito-me
numa cama de vómitos
e nem assim fico azedo.
Fico sem sexo para azedar.
Rezo a Deus
e nem assim sou santo.
Faço pazes
com a luz do Diabo
e a sombra dos anjos.
Crucifico-me em mim.
Da palavra resta o sangue
que meu corpo rejeita e a alma cospe.