Quem não se inventa não existe.

DÓI-ME A BOCA DE TANTO SILÊNCIO

Meus olhos

são um empilho de pedras toscas

à espera de serem arremessadas ao charco

das lágrimas no meu deserto.

 

Meu olhar

são palavras chateadas

num gume de leitos frígidos

no altar de solidão que me acerca roseiral.

 

Tudo quanto

me toque o olhar é tristeza,

é vazio que anatomiza de gelo os meus passos.

 

Minha voz

é o martelo de uma pedreira

desbastadora de montanhas erguidas

em esperança minudenciada em pó.

 

Falo gritos

violados por ódio ao céu

desfasado da lua que sussurra fustigada

de berços espinhosos ao meu respirar aturdido.

 

Suspiro murmúrios

à vastidão do mar em busca de uma ilha

para abrigar o meu choro num cais de beijos.

 

Dói-me a boca de tanto silêncio,

morre-me a imortalidade da alma ansiosamente.

 

Meus sonhos

são escadas encaracoladas

em volta das serpentes pecadoras

que me rodeiam a mente.

 

Amar

é um pântano

onde os nenúfares se perdem

do meu fundo difícil de amansar

e secam tal cacto se apodere do oásis.

 

Desejar é uma sopa de feitiços

mal feitos no caldeirão da carne em lume brando.

 

Minhas mãos

são esporões atiçados

por fogos que me espancam

com ventosas apegando-me ao nada.

 

Meu pensamento

é um fio de seda em nó de rufos loucos

que me ata ao pleonasmo dos dias.

 

Meu corpo

é um lodaçal de musas

que me cobrem o rosto com véus

de escuridão imensa.

 

As volúpias das musas são ventos

de ausência que me crispam o caminho.

 

Meu caminhar

é inóspito ser demolido

em súplicas aranhuças roçagando-me

a pele com arrepios de morte.

 

Sou guitarra de cordas empolgadas

por feições sem unhas que me toquem.

 

Sou tão só

um homem só,

um poeta na multidão,

um louco diferente dos loucos.

Comentários

Data 22-10-2010
De Ana
Assunto Com Alma...

O que aprendemos, é uma gota de água...
O que ignoramos, é um Oceano...

mais uma fã...

Data 22-10-2010
De Odete Ferreira
Assunto Dói-me...

Raiva lançada para si próprio mas tb ao mundo para o qual grita, no silêncio doloroso de palavras ou ausência delas... :)

Data 22-10-2010
De Gasela
Assunto DÓI-ME A BOCA DE TANTO SILÊNCIO

Gritas a tua raiva e frustações numa poesia de fazer chorar,
os mais insensiveis... Bom poema1

Que a boca te doa de muitas risadas,e beijos quanto o mar tem de água..

XI<3
TUA FÃ...

 

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