Incendeio-me
em palavras bárbaras,
consequentes de um universo
inconsciente.
Onde a razão do ser
é atropelada por vagas de dor
que fraudulentam o Natal.
O Natal
deveria ser o sol
da terra dos sonhos.
Ser luar
de quem povoa
o escuro das emoções.
Ser um impedimento
à tristeza que canta fúnebre
no palco do mundo em queda
para sarjetas de ganância.
Ser um travão
que abrandasse os desacatos da alma.
Ser um trovão
que iluminasse os caminhos
ocultos nas trevas do faz de conta.
Mas,
e se fosse mesmo Natal,
mesmo mesmo mesmo mesmo?…
Seriam abraços
a sigla da família,
o amor franco seria o lar
da amizade leal para com as dádivas
de qualquer credo,
qualquer raça,
qualquer cor ou orientação sexual,
seria um estado de graça,
seria o ser natural reluzido em sorrisos
sem quotas falsas.
Mas infelizmente não é natal,
não o é para todos
e mesmo para os que é,
é um talvez contabilizado
em contas tradicionais ou contos
de vendavais para suster mais uma vez
a respiração social aos olhos dos outros.
Natal
é o nascimento de um começo,
então que comece a ser Natal.
Natal agora,
é uma pátria comercial,
uma data esbanjadora de tempo precioso,
um tempo destoado por um dia hipócrita.
Mas qual Natal
se alega com rejeição,
com displicência
descarregando em luzinhas
a ignorância?
Que entidade adulta nós somos?
Um pai rico,
uma mãe exibicionista?
Ou apenas transeuntes,
um número de uma estatística
adereçada de enfeites carnavalescos?
Pessoas,
somos pessoas.
Esqueçam
que o Natal existe,
lembrem-se que somos humanos,
que somos animais,
que somos toda a flora
a tempo inteiro
de Janeiro a Dezembro.
Locupletem-se
de pequenas vitórias
em cada luta na grande batalha
contra a fome,
a solidão,
o abandono,
a desigualdade.
Unidos
venceremos a derradeira guerra
contra um só galopante inimigo,
nós próprios.
Faça-se então o Natal,
aquele Natal das utopias,
da família,
de todos para com todos.
Sim,
esse Natal Natal.
Aquele feliz Natal!!!