Acreditar
no fim do mundo
é começar outro mundo.
Acreditar
no fim do mundo
é uma chaminé de fumo preto
onde a poesia é um crematório
de sonhos que sobram de um poeta.
Dou voltas e voltas
em estreitos socalcos
de uma esperança fugidia
pelos temas de um rio de cores
que culminam o julgamento final.
Há uma orquestra
de sentidos estranhos
que agitam os cumes das eras
esgotadas no retrato de uma profecia
sem época na avalanche do calendário
escoado em ecos apólogos e apocalípticos.
O fim do mundo
sobrevive à construção do fim,
cujo embaraço dos cultos franqueiam
palavrões numa lamentação de despedida.
Aplaudo de pé
até que as mãos me domem
de escárnio e os pés se enterrem
a latejar frios no velório da existência
num destino lerdo e disputado pelos deuses.