Caminhar antárctico.
Estilhaços ritos,
pedaços de gritos
na algibeira de um cadáver outrora palavra.
Ceifo a esperança
na eira do pó que me cuspiu para a vida.
Oásis de saliva venenosa
que sacia os povos monstros.
Formosa bruxa,
feiticeira de milagres
que os abutres beijam
no deserto dos meus lábios.
Gretada ânsia na óptica da besta.
Prazeres sábios,
insólito sabor arde a sangue
e pimenta nos cornos do horizonte.
Pinto-me enjoo
nas traves galopadas
por aves sem dorso,
cor de caroço sem fruto.
Minto-me cavalo sem asas
na pena sem espada nem passado.
Estrelas apagadas,
muda caça me fecha
na lixívia das horas laxantes,
ácidas chuvas me amortalham.
Colmeias de mel em vão,
vestem-me carvão de um sol
vomitado aldeia de nada,
amante de ninguém nenhures baralhado.
Agoira o vento velas fantasmas
que bailam asmas do tempo curto,
instante fuzilado por expressões piegas
na Las Vegas do meu olhar.
Estoiram ilusões
na fera sede imunda,
beata ferida funda
nos trovões que me atam os pés
à luz da madeira que me dará um dia boleia.
Esculpo o soutien
do universo em tempestade vertido,
culpo o verso traído ao escrever o verbo morrer.
Da dor,
palestra fingida.
Do amor,
musa escondida na aresta da lua,
rameira urtiga nua,
infinda princesa sem castelo,
crucificada no cutelo da minha voz acesa na poesia.
Atlântico estar.