Quem não se inventa não existe.

INFERNO DO POETA

Sentir é o cais do poeta,
escrever é o seu ninho,
o seu almanaque da vida.

A emoção é um deserto de onde ele deserta.

O poeta é um galã de tempestades no ego,
a sua palavra é nefasta escória
nas mãos de anjos de asas negras.

Egrégia sombra versa o inferno do poeta.

Ele adormece o Sol nas lágrimas
de quem sabe ler o brilho dos olhos.

Ele é trovão que ilumina a alma
a cada esquina da razão.

Oriunda do mais profundo do ser,
a poesia está omnipresente no abismo
que o poeta inventa.

Ele sente a Lua tal como um corpo
sente o calor de outro corpo.

A paixão é uma serpente desnorteada
nas quimeras do poeta.

O amor é um mar de palavras soltas
num círculo desfigurado.

Ele ama o amor para lhe chamar dor.

Desengana a luz dos ataúdes da mente
e não mente,
ao dizer a toda a gente que é louco.

O seu olhar é um lírico escravo
que pernoita em tártaros de ausência,
e lança-se desejo ao fogo das musas.

Ele desentende o mundo
com culpas de profecias boémias,
ele cala o vento com a voz dos seus poemas,
ele namora a ponte entre o real e o sonho.

Só ele inspira a último suspiro
de quem não consegue chorar.

O poeta emoldura o esquecimento
nas flores para se lembrar nas suas cores
da estrofe do infinito nas suas mãos.

Ele escreve o sofrimento nas árvores,
na esperança que o Outono o leve
e o deixe mais leve na pua da sua pena.

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