Quem não se inventa não existe.

NU QUE NUNCA DESNUDASTE

Confessa,
diz que já não me amas.

Entregarei a minha língua
às serpentes que por ti não pequei.

Manda-me embora.

Ficarei nas sombras
que não quiseste iluminar com o teu peito.

Diz-me adeus.

Sepultarei as palavras
que não ouviste no paraíso negro
onde me encontraste antes desta ilusão traída.

Confessa-me o teu repúdio.

Seguirei
pelo caminho de estrelas
que não quiseste ver a meu lado.

Podes até me cuspir
o teu fingimento sobre os meus sentimentos.

Mas diz-me o porquê
dos teus olhos serem uma porta fechada
onde o perfil o meu corpo deixou de entrar.

Diz-me o porquê
das tuas mãos serem tão ásperas
ao desfolhares meu ser lã no teu carinho de pedra.

Mata-me.

Mas antes
do meu último suspiro
diz-me o porquê deste sabor fel.

O porquê desta distância
nos teus beijos moribundos.

Desfaz-me em mil pedaços
mas fala do que em mim te afasta.

Mostra-me
o que em mim te empurra
para o abismo onde caio a gritar lágrimas
que tu nunca libaste do cálice da minha tristeza.

Parte quando quiseres,
esquece-me onde quiseres,
maldiz-me a quem tu quiseres pôr-me de lado.

Mas não me deixes
nesta agonia que me tolhe a alma.

Não me deixes
a trovar sozinho o funeral do nosso amor.

Não me deixes neste canto
de esquinas choradas no teu silêncio.

Caminha para onde não vou.

Peço-te
que pares uma última vez
enquanto meus olhos não cegam no teu gelo.

Cala o violino
desarmonizado dos teus passos
para esse longe mudo que inventas na tua voz.

Volta a ser minha enquanto sou teu.

Sê a lua
desta maré cheia
que vaza pelo esgoto do teu não importa.

Confessa
o teu esquecer-me
no nu que nunca desnudaste.

Ficarei neste pântano
de rosas murchas pela saudade de ti.

Esta saudade
é uma ânsia poetada
num caixão que teimas não fechar,
cuja a chave perdeste num deserto imperfeito.

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