Quem não se inventa não existe.

O SILÊNCIO É LUGAR DE POETAS

Sigo trilhos
por onde o silêncio pede esmola à alma.

Dei-lhe um chiu
de escola pobre de muitos chius
que trago no mofo das palavras.

Mesmo assim,
o silêncio manteve o seu som
em esquinas de nada estendido fome
à mão do verbo ler.

Elenquei-lhe
algumas letras postas num fio
preso á ardósia da poesia.

Isolado,
o silêncio falou oásis
que eu pisava com ócio.

Cada oásis de silêncio
era um cais de sombras
para que o pensamento
não desidratasse o rumo.

Em cada sombra
havia um pátio de água
que bebia como que se fosse um livro.

Era em cada sombra
uma nova gota para a sede dos olhos.

De cada um desses livros,
saboreava um novo mundo
que só a imaginação ousava
folhear as páginas.

De página em página,
vírgulas brincavam com palavras novas.

Palavras de creche
aos primeiros milímetros dessa estrada
que o silêncio me ensinara as tintas do ser.

O silêncio
mais do que silêncio,
é um lugar de poetas.

Um lugar onde a voz
se orgulha do timbre
que a traz ao colo na boca.

Um lugar de mantos,
onde se repetem as mãos
domar entrelinhas que encurtam perguntas.

O silêncio é sábio.

Sabe quando falar
nas sensações de perda,
sabe calar-se quando a emoção
traz respostas de nós próprios.

O silêncio é homem
quando a mulher diz não,
é mulher quando o homem
se enamora do garrafão.

O silêncio é de ouro
quando partilhado por amor,
é esterco quando atirado com ódio.

O silêncio é cavalheiro
quando respeitamos o seu lugar.

O silêncio sou eu
quando me ouço na sua esmola.

O silêncio
é a última serenata física da vida…

…tão terrestre quão a conhecemos.

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Data 16-10-2010
De Luzia Pinto
Assunto O silêncio

O silêncio
é a última serenata física da vida…

 

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