Fogem-me os olhos
por entre os dedos de uma bofetada de vento.
Sinto na alma sopros
em voz trémula de Outono.
Grito em timbre
de portas fechadas ao Verão
que agora acaba.
Setembro
é um riso de meio-caminho andado
num coma onde vem à baila a saudade.
Os dias mingam
como atacadores desapertados
de um sapato se desgastam e sujam pelo chão.
Neles tropeço
já com a esperança
que o Verão volte à salada da imaginação.
O calor namora-me agora
de pé descalço sobre as folhas secas.
É Outono e nem por isso
o episódio da vida deixa de ser romântico.
Os fins de tarde
desamparam-me os lábios num sorriso calmo.
À minha volta,
tudo é o que não parece num tango deforme.
Tudo acontece devagar
nas entrelinhas do ego.
As árvores despem-se
como quem desabafa a tristeza
num mealheiro de sonhos.
Outono é um pensar
onde dizemos tudo o que nos vai na alma.
É um estranho limbo
onde as pernas tremem num poema de ser.
É um repor do frio à noite
ao ritmo do coração que deita
tudo cá para fora numa só lágrima.
Outono
é um canto desleixado
onde o sol é uma lareira de sol-pôr
anunciando o Inverno.
É uma esquina
de dores de cabeça
que nos faz sentir não ter com quem falar.
Outono traz horas desencontradas
onde tudo se torna insensato.
Onde tudo se exprime
num caramelo de adolescência.
Data | 27-09-2010 |
De | Maria Melo |
Assunto | "Ser poeta" para Henrique |
"Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente! "
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Data | 27-09-2010 |
De | maria carvalho |
Assunto | poema de grandiosidade Outonno Mulher |
Como sempre navegando no seu barquinho de borracha,arvores ou mulheres despidas,horas que passam sem dar tempo a vida,tudo se torna escuro mas mesmo assim as folhas nos esperam como se fossem afagar ou cobrir.nos de alguem que nos tentava espreitar!!!