Omnívoro pensamento
numa safra de estímulos
que à alma pertencem fogo.
Irrefreável palavra dor,
içada ao cúmulo encarniçado
de saias canibais ceando corpos.
Sentidos estouvados
increpam aos olhos ralhos de vento
na ressurreição da voz em moinhos
de amor à primeira vista cega.
Linhas de saudade
escrita com avidez,
batalham gramáticas
de ausência sem prazo.
Reticências
penetram a língua
com cacos de espelhos
de reflexos degradados
por angústias sem-abrigo.
Memórias de não sofrer
sujam calendários de vertigens,
posadas nas mãos serpentes
enroscadas ao verbo falar.
Fala
o corpo
deslumbramento de prazer
calado na inteligência dos dedos
apontados à nascente dos poemas.
Equinócios de tambores
fustigam fúnebres as canções da aurora
com pedras outrora lágrimas de amor.
Fundos presos
ao topo das horas
por fio desatado ao grito
esquecido da terra que nos há-de comer.
Conversas
desabadas em neve
gelam o ar sobre o tecto ruído do mar
por onde navega o sonho
nas paredes pintadas de noite.
Pesadelos
testemunham desastres da razão
de um poço onde cai a sentença da vida.