Viver-me
é um medonho quanto,
um desmaio do chão ao céu espanto.
Ausência é o que não fiz.
Sentir-me
é um quesito
mesquinho de tempo,
mea culpa de Satanás amnistiado.
Ruído é o que não disse.
O caminho do ser
medra aos pés noivados
de pão e vinho à boca das covas.
Rés vezes
de pedra soletrada
em luar de proa sem barco,
parco estar este não sei onde ser.
Saudade é a distância que não pisei.
Padece a fantasia
no covil dos cornos
que se abaixam açoite
na cicatriz de folhas em branco.
Solidão é os risos que não dei.
Adormece a noite
cantada de acontecer,
o dia folga na maré da alma
onde o corpo fica esquecido além por ir.
Atlântidas por descobrir
são Midas no meu dormir.
Sono é o que não amei.
Idas sem volta,
diabos à solta na frieza dos lábios,
desertos sábios ensinam a palavra infinito.
Acendo ascender à morte.
Ventos pavios,
violinos navios a navegar o norte.
Sabedoria é o que não sei.
Sobram sombras
no berço da voz quando o silêncio
é um rio parado na viuvez das margens.
Amores são viagens pela imortalidade.
Tropelia é o que não decidi.
O sol é um sapato
que trago calçado para sonhar.
Acordar é uma pedrinha
que me descalça dos sonhos.
Eu é quem não conheço.