Quem não se inventa não existe.

SEPULTADO VIVO

Acordo num escuro apertado.

Recordo a última dor de amor
que me envenenou.

Sou cadáver de uma de uma vida má.

Sinto-me mal morto.

Morreu o meu corpo
mas a alma perdura fantasma dolente
de desejos sem túmulo.

Consciente terror.

Encontro-me sepultado.

Estou fechado num caixão
a sete palmos do chão que sofri.

Choro quanto não vivi.

Estou aqui semeado
numa cova que me sova de angústia.

Grito ao forro de seda
que me engasga a esperança
num eco claustrofóbico.

Paro,
escuto tudo quanto ouço morte
que me rodeia no cemitério da aldeia
onde nasci.

Desvairo o pouco ar que me resta
nesta aresta de solidão.

Caio em mim sepultado vivo.

Que flores estarão a adornar
esta última morada?

Quem me terá chorado?

Nunca me senti tão fechado
em tal necrologia!

Nunca tinha tocado tal silêncio
que me acaricia de medo.

Agora
sou poema escrito pela pá do coveiro,
sou névoa em verso morto.

Faleço num título zombie.

Sentir-me morto
é atravessar prados de castigo,
é um frenesim de recordações
que reabrem esta cova à unha da saudade.

Não!

Não quero mais ressuscitar morto!

Não!!!

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